sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu e tu, ou eu e eu?!

O primeiro erro que cometi foi ter-me apaixonado por ti. Não sei ainda hoje explicar o que me aconteceu. É como se de repente tivesse saído de dentro de mim própria e assistisse ao desenrolar da paixão que crescia desmesuradamente, sem que nada pudesse fazer para o evitar. Talvez, sem quereres ou saberes, tenhas tocado nos pontos cardeais da minha insegurança e deles se tivesse acendido uma luz que segui, cega e surda, como os insectos numa noite de Verão à volta de uma lâmpada que alguém se esqueceu de apagar. Mas o amor é mesmo assim: absoluto, estúpido e tudo menos sensato.
Ou talvez me tenha apaixonado apenas pela tua imagem e, quando te tornaste real aos meus olhos, te tenha adaptado a um ideal humanamente perfeito, à luz do meu desejo. De qualquer forma, apaixonei-me por ti, e esse foi o erro primordial, o primeiro de todos, provavelmente o único importante. Os outros erros não se teriam dado se este primeiro não tivesse crescido como uma bola de neve no meio de uma avalanche.
Não sei avaliar exactamente o que aconteceu, mas também há tão pouco de exacto na observação dos mistérios mais simples! O mundo, para cada um de nós só existe na medida em que se confina na nossa vida, naquilo que vemos, sentimos, ouvimos, sonhamos, tememos e acreditamos. E cada um de nós encerra o seu mistério que nem o próprio entende. É por isso que ao sermos espectadores da nossa existência, sofremos quando a vemos caminhar para onde não queremos ir, mas assistimos, impávidos e impotentes ao curso natural das coisas.
O segundo erro, e deste assumo toda a culpa, foi não te ter escondido que te amava. Queria-te tanto que pensei que isso te obrigaria a amar-me. Como fui burra e infantil! O amor não se procura. Simplesmente vêm-nos parar ás mãos e só amamos o que é diferente, mesmo que nos pareça semelhante. Tu tens essa diferença que me cativou.
Mas devia ter aprendido a escutar os teus sinais e decifrá-los, antes de me denunciar com os meus, bem menos subtis, bem mais temerários.
Sou uma guerreira, o amor é a minha arma. O meu coração é o meu escudo, avanço sem lança nem capacete, caio e levanto-me as vezes que for preciso, mas não paro nunca. A não ser que o caminho se feche.
Quando te foste embora, naquele dia, percebi que a tua porta se tinha fechado para sempre. António Lobo Antunes (um famoso escritor) diz que quando o coração se fecha faz muito mais barulho do que uma porta, e acredita, oiço ainda o barulho do teu silêncio, como uma pedra encostada à garganta.
Mas serviu-me para aprender algumas coisas, entre as quais que estar quieta também é uma acção. E ao ficar quieta, consegui parar de sonhar, e comecei a viver cada dia um atrás do outro...
Quando sonhamos muito, corremos o risco de deixar de viver neste mundo, passamos para outra dimensão e não raras vezes transportamos connosco aqueles que amamos. E aquilo com que sonhamos, passa a ser o nosso desejo e é em função disso que respiramos, vivemos, adormecemos e acordamos.
Não te sintas tentado a sentir algum tipo de compaixão, lê-me apenas até ao fim, é tudo o que te peço. Só quero que me oiças.
Falta-me a clareza de espírito, por vezes penso tantos que as ideias se misturam numa amálgama disforme e absurda de raciocínios sem fio, mas logo retomo o leme, logo apanho a direcção, como sempre fazem aqueles que amam quando querem perceber em que é que falharam.
É tão fácil julgar os outros! Como se essa tua postura te desse alguma impunidade. Nada nem ninguem é impune diante dos seus próprios erros.
Acabamos sempre por pagá-los de uma forma ou de outra.
Talvez não sintas tudo à flor da pele como eu, que sou feita de coração, nem sei porque é que Deus me deu miolos se nunca os uso para as coisas mais importantes da vida. Tu és frio, cerebral, foges dos sentimentos como uma criança de um cão grande, sem perceberes que tudo começa e acaba nos afectos, e que o mundo é feito de coisas tão simples e grandiosas como o sexo, o amor, a raiva, o ódio e a saudade e que são os instintos mais básicos que fazem o mundo andar, sempre com conflito e luta, sempre e ainda com vontade.
Não renego o amor que tive por ti, mas não aceito a tua intolerância, a facilidade com que julgas os outros, a leviandade com que me condenaste.
Mas não te julgo, nem a ti nem a ninguem. Apenas acredito ou não nas pessoas.
Amei-te de uma forma desajeitada, arrebatadora e incondicional, sempre querendo e desejando o melhor para ti. O melhor só tu mesmo poderás encontrar e hoje estou certa que não passa por mim.
Não é a dor da rejeição que me massacra, é a dor de saber que nada poderá sobrar deste amor. Que a amizade não tem espaço nem voz entre duas pessoas que desconfiam uma da outra com a facilidade de um inquisidor a soldo.
Cada vez mais acredito que amar é dar e tudo o que não é dado, perde-se. E que a amizade é talvez a mais bela forma de amor, porque é gratuita e intemporal, não precisa de promessa nem de carne, não se desfaz com zangas nem se desvirtua com o tempo.
Não te posso dar o meu carinho, o meu afecto, o meu amor domesticado em amizade, se nem sequer tens a grandeza de abrir os braços para a receber.
As mulheres demoram algum tempo a transformar um sentimento em pensamento, tanto mais quanto este é profundo, e no sossego do meu coração, guardo ainda intacto tudo o que sinto por ti.
Com a morte deste meu amor por ti, morre também uma parte de mim, algo cujos contornos não consigo ainda delinear mas que com o tempo perceberei, quando a alma apaziguada fechar as feridas desta minha dor derrotada e passiva perante o teu silêncio e a tua mascarada indiferença.
Mas é melhor que nunca mais se cruzem os nossos olhares, é melhor que a palavras adeus seja mesmo essa e não outra. Chegámos ao fim do caminho. A partir daqui todas as palavras serão inúteis.
Nunca saberei até que ponto ages com o coração ou apenas com a cabeça. Até que ponto te entregas ou apenas jogas. Até que ponto sentes e ages, ou apenas observas. E é por nunca ter sabido quem és, que um dia te conseguirei esquecer.

Um comentário:

  1. estou sem palavras para comentar ...

    Um beijinho para ti..
    Eduarda
    Be in ♥ love (by you)

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