quarta-feira, 18 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

Sol e Lua

O erro foi do verbo ou mesmo do instinto que julgam dividir em masculino e feminino. No quarto ao deitar, desenrolo o cabelo e sorrateiramente a lua invade a escuridão que silenciava o meu dia. Não! Não era a luz do dia, mas o Sol a esconder-se na noite, a confirmar um novo anoitecer... Mas que motivo tinha eu de fazer tais perguntas no meu estado alpha, ou talvez gama da sonolência. Perdi alguns minutos a contar as estrelas do céu, algumas poucas que arriscavam a competir com a luz do luar. Astros e estrelas a dividir o mesmo espaço, porque só nós “ os racionais “ não conseguimos nem partilhar pensamentos? Por que, às vezes o laço matrimonial é o fruto do desejo? Desejo que se fez carne e em nove meses habitará entre nós. Após o amadurecimento do fruto, não há mais significado para continuar juntos e a lei assinada em papel com testemunhas e tudo acusa a repartição daquilo que construíram juntos durante aquele sacramento. Paradoxo universal, pois o que aprendi na Eucaristia é que Sacramento não se desfaz, assim como óleo e água não se misturam, relembra as minhas aulas do Secundário, e a primeira aula de Química quando descobri que o que aprendi anteriormente eram teorias fasciculadas e que a ponta do iceberg não estava à vista... Chego à conclusão que a excepção faz parte da regra, e que o proibido existe para que possam definir o que é correcto, que também é relativo. Ao olhar o céu tão azul que até parece betume, principalmente quando tentamos reduzir as despesas mensais e tentamos ridiculamente não acender todas as luzes da casa. Perdermos o fôlego ao receber a conta da luz, água, senda, assistência médica. Se existisse uma fábrica de balões de oxigénio para as crises financeiras, acho que não haveria hospitais suficientes para enfiar tantos acidentados com traumatismo irreversível na conta bancária. E voltando ao matrimónio, já está comprovado que independência económica é factor crucial para o bom convívio no lar. A não ser que um dos cônjuges seja um astro, não como o sol, mas uma estrela que ilumina de forma diferente os saldos dos mega empresários e dos banqueiros de Hollywood. Talvez a arte seja a forma mais prazeirosa de aproximarmos uns aos outros. E é por isso que Michelangelo não uniu Deus ao homem, se visualizarem há alguns centímetros que separam os dois seres. “ A criação de Adão” pintada na capela Sistina é a representação expressiva do que é o belo e natural. Homem fruto da criação Divina, astros, estrelas, mutações e vagos sentidos são definitivamente à exclusão do que podemos chamar de sensatez. Sol e Lua dividem o mesmo cenário, equilibram-se nas peculiaridades de cada hemisfério e só nós homens e mulheres criamos a rivalidade e delimitamos o nosso espaço, ou melhor o meu, e o teu lugar. E estabelecemos preço, seleccionamos padrões e quem irá entrar no círculo finito das nossas amizades. Bem, já é quase dia e ouço o Sol dizer:”Bom dia, dona Noite! A madrugado foi boa? Agora sou eu que reino até o crepúsculo.”...com uma voz quente e tão distonante da frieza da noite e simultaneamente tão parecida com a vida de um casal, aquele mesmo que uniu-se pelo fruto, foi abençoado pelo Sacramento e, separado pela lei, mas unido, ainda sim, pelo sonho de brilharem como estrelas na vida de alguém.

De madrugada....

Desejei-te ontem, de mais, e hoje também. Todos os dias são o mesmo quando te desejo assim. Só penso em ti. És inigualável. De olhos fechados consigo encontrar-te noutros corpos, mas só o teu amo de olhos abertos. Amo-te demais. Dormi agarrada à camisola de que te esqueceste. Ela ainda tem o teu cheiro. Vou guardá-la numa caixa para continuar perfumada. Não te a darei de volta. Não peço o teu amor. De ti não exijo nada. Mas nunca me digas que o amor é impossível. Tu fazes-me viver, sonhar, acordar com pesadelos. Tu és o meu diamante solitário e entre nós não há contacto. Quando te escrevo tu não foges das minhas páginas. Quando te escrevo tu ressuscitas a minha alma. Acompanho o teu lindo sorriso de longe e de perto, meu príncipe da trevas, lindo. Guardo comigo o teu olhar e sei que te recordas do meu corpo a tentar convencer-te que o meu amor é inteiro, embora nunca o seja o bastante. É bom desconfiar do amor porque ele às vezes é traiçoeiro, metamorfoseia-se em reles sentimentos, eras tu que mo dizias.

Eu não concordo. Desculpa-me o ter-te acordado hoje tão cedo. Tu sabes que não uso relógio. Só sei se é dia, se é noite. Tu sabes que eu sou uma apaixonada. Perdoa-me.

Diz qualquer coisa logo que possas. Sinto saudades, é só.

Não existe corpo, não existe face, não existe sexo e existe tudo isso. Só o amor é imortal, acredita.

Pequeno post-it


Não fugi.
Fui só às compras.
Não sei porque não fujo, talvez porque não posso.
Não sei porque volto. Talvez porque precise.
Espera por mim que eu volto, enquanto puder.
Mas quando eu fugir, vai atrás de mim
e faz-me sentir amada....

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Asfixia

Uma mão aberta, os olhos que se esquivam detrás de um espelho… Só o que se partilha cresce. Nada de mais próximo, nada de mais distante do que duas almas que se amam…
Os teus cabelos negros são os laços que me atam e desatam, que me arrastam… esvoaçando no ar, tu ergue-te sobre a minha melancolia. A tua boca é a minha entrada para a asfixia. Porque persegues a tua sombra? Não encontrarás essa vida que procuras, porque nada permanece.
De longe chega uma vontade de chorar sem que se saiba o motivo. O tempo, que tudo promete ao esquecimento, quando virá ele em meu auxilio?
O teu corpo, luz sobre a cama. A escuridão chegará de um momento para o outro e tu perdes-te, meu amor, sobre os lençóis num sono que enche a noite.
Não sei onde está aquele que eu persigo, por onde se passeia, erguido e nítido, quais os desejos que alimenta e os prazeres de que se contrói. Nem sei que paisagens o acolhem, que língua humana fala.
O teu corpo despido, estendido ao meu lado, preste o ataque. Tão frágil que me impede de te tocar. Um imenso desejo. A noite toma-te sem fazer perguntas.
Perigos numerosos rondam os viajantes à procura do amor. O esquecimento, o desgaste dos dias, as pequenas coisas que ficam por fazer. Os cavalos estão cansados, não querem seguir para lado nenhum. Só a procura vale a viagem.
No tecido perfeito o rasgão irreparável. O que nos une é o que nos separa. O mais seguro é escapar para o lugar de maior perigo. As palavras são suspiros. Vou sozinha como uma sombra. Partir sem saber quando, ou como. Se não fosse cega coragem por onde seguiríamos? A viagem a fazer não é nossa, outros a começaram, outros a terminarão.
O meu amor permanece deitado sobre os lençóis, o doce corpo tapado por um deles, os delicados pés fora da cama.
Nada haverá mais do que isto: vozes, pedras, luz, um braço que se estende. Aves que cruzam brancas nuvens à deriva. Estranha é a nossa condição. Como se fossemos daqui. Vozes, pedras, luz. Seres mudos que não falarão.
O meu último pensamento desconheço. O meu primeiro és tu, claro dia…. És tão belo! A teus olhos, respondias….

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu e tu, ou eu e eu?!

O primeiro erro que cometi foi ter-me apaixonado por ti. Não sei ainda hoje explicar o que me aconteceu. É como se de repente tivesse saído de dentro de mim própria e assistisse ao desenrolar da paixão que crescia desmesuradamente, sem que nada pudesse fazer para o evitar. Talvez, sem quereres ou saberes, tenhas tocado nos pontos cardeais da minha insegurança e deles se tivesse acendido uma luz que segui, cega e surda, como os insectos numa noite de Verão à volta de uma lâmpada que alguém se esqueceu de apagar. Mas o amor é mesmo assim: absoluto, estúpido e tudo menos sensato.
Ou talvez me tenha apaixonado apenas pela tua imagem e, quando te tornaste real aos meus olhos, te tenha adaptado a um ideal humanamente perfeito, à luz do meu desejo. De qualquer forma, apaixonei-me por ti, e esse foi o erro primordial, o primeiro de todos, provavelmente o único importante. Os outros erros não se teriam dado se este primeiro não tivesse crescido como uma bola de neve no meio de uma avalanche.
Não sei avaliar exactamente o que aconteceu, mas também há tão pouco de exacto na observação dos mistérios mais simples! O mundo, para cada um de nós só existe na medida em que se confina na nossa vida, naquilo que vemos, sentimos, ouvimos, sonhamos, tememos e acreditamos. E cada um de nós encerra o seu mistério que nem o próprio entende. É por isso que ao sermos espectadores da nossa existência, sofremos quando a vemos caminhar para onde não queremos ir, mas assistimos, impávidos e impotentes ao curso natural das coisas.
O segundo erro, e deste assumo toda a culpa, foi não te ter escondido que te amava. Queria-te tanto que pensei que isso te obrigaria a amar-me. Como fui burra e infantil! O amor não se procura. Simplesmente vêm-nos parar ás mãos e só amamos o que é diferente, mesmo que nos pareça semelhante. Tu tens essa diferença que me cativou.
Mas devia ter aprendido a escutar os teus sinais e decifrá-los, antes de me denunciar com os meus, bem menos subtis, bem mais temerários.
Sou uma guerreira, o amor é a minha arma. O meu coração é o meu escudo, avanço sem lança nem capacete, caio e levanto-me as vezes que for preciso, mas não paro nunca. A não ser que o caminho se feche.
Quando te foste embora, naquele dia, percebi que a tua porta se tinha fechado para sempre. António Lobo Antunes (um famoso escritor) diz que quando o coração se fecha faz muito mais barulho do que uma porta, e acredita, oiço ainda o barulho do teu silêncio, como uma pedra encostada à garganta.
Mas serviu-me para aprender algumas coisas, entre as quais que estar quieta também é uma acção. E ao ficar quieta, consegui parar de sonhar, e comecei a viver cada dia um atrás do outro...
Quando sonhamos muito, corremos o risco de deixar de viver neste mundo, passamos para outra dimensão e não raras vezes transportamos connosco aqueles que amamos. E aquilo com que sonhamos, passa a ser o nosso desejo e é em função disso que respiramos, vivemos, adormecemos e acordamos.
Não te sintas tentado a sentir algum tipo de compaixão, lê-me apenas até ao fim, é tudo o que te peço. Só quero que me oiças.
Falta-me a clareza de espírito, por vezes penso tantos que as ideias se misturam numa amálgama disforme e absurda de raciocínios sem fio, mas logo retomo o leme, logo apanho a direcção, como sempre fazem aqueles que amam quando querem perceber em que é que falharam.
É tão fácil julgar os outros! Como se essa tua postura te desse alguma impunidade. Nada nem ninguem é impune diante dos seus próprios erros.
Acabamos sempre por pagá-los de uma forma ou de outra.
Talvez não sintas tudo à flor da pele como eu, que sou feita de coração, nem sei porque é que Deus me deu miolos se nunca os uso para as coisas mais importantes da vida. Tu és frio, cerebral, foges dos sentimentos como uma criança de um cão grande, sem perceberes que tudo começa e acaba nos afectos, e que o mundo é feito de coisas tão simples e grandiosas como o sexo, o amor, a raiva, o ódio e a saudade e que são os instintos mais básicos que fazem o mundo andar, sempre com conflito e luta, sempre e ainda com vontade.
Não renego o amor que tive por ti, mas não aceito a tua intolerância, a facilidade com que julgas os outros, a leviandade com que me condenaste.
Mas não te julgo, nem a ti nem a ninguem. Apenas acredito ou não nas pessoas.
Amei-te de uma forma desajeitada, arrebatadora e incondicional, sempre querendo e desejando o melhor para ti. O melhor só tu mesmo poderás encontrar e hoje estou certa que não passa por mim.
Não é a dor da rejeição que me massacra, é a dor de saber que nada poderá sobrar deste amor. Que a amizade não tem espaço nem voz entre duas pessoas que desconfiam uma da outra com a facilidade de um inquisidor a soldo.
Cada vez mais acredito que amar é dar e tudo o que não é dado, perde-se. E que a amizade é talvez a mais bela forma de amor, porque é gratuita e intemporal, não precisa de promessa nem de carne, não se desfaz com zangas nem se desvirtua com o tempo.
Não te posso dar o meu carinho, o meu afecto, o meu amor domesticado em amizade, se nem sequer tens a grandeza de abrir os braços para a receber.
As mulheres demoram algum tempo a transformar um sentimento em pensamento, tanto mais quanto este é profundo, e no sossego do meu coração, guardo ainda intacto tudo o que sinto por ti.
Com a morte deste meu amor por ti, morre também uma parte de mim, algo cujos contornos não consigo ainda delinear mas que com o tempo perceberei, quando a alma apaziguada fechar as feridas desta minha dor derrotada e passiva perante o teu silêncio e a tua mascarada indiferença.
Mas é melhor que nunca mais se cruzem os nossos olhares, é melhor que a palavras adeus seja mesmo essa e não outra. Chegámos ao fim do caminho. A partir daqui todas as palavras serão inúteis.
Nunca saberei até que ponto ages com o coração ou apenas com a cabeça. Até que ponto te entregas ou apenas jogas. Até que ponto sentes e ages, ou apenas observas. E é por nunca ter sabido quem és, que um dia te conseguirei esquecer.

Hoje

Toda a nossa existência tem por condição a infidelidade a nós próprios. Fui muitas vezes infiel aos outros, mas sobretudo a mim própria, quando me recusava a escutar o meu próprio coração. E tantas vezes o fiz que receei tornar-me igual a quase toda a gente, que sobrevive nesse estado de não existência, sem sequer ter a consciência de como e quão fundo nele se pode estar aprisionado.

Sem saber nem como nem porquê e apesar da minha aparente desorganização caótica, fui mantendo algumas réstias de lucidez que me foram permitindo analisar-me, se não com objectividade, pelo menos com alguma justeza. Se fosse objecto seria objectiva, como sou sujeito, só posso ser subjectiva, não tenho por isso pretensões de alcançar o cerne da verdade absoluta.

Mas, talvez porque sou de mim mesma o meu maior carrasco, posso debruçar-me sobre estas folhas para falar sobre a minha verdade.

Aprendi, a muito custo, que se há alguma verdade, ela está no que se sente, e assim vou viver, até porque entregar a minha existência a outro modo de vida que não seja regido pela franqueza, não faz para mim qualquer sentido.

Olho para trás e vejo com tristeza que os meus erros contaminaram as recordações do tempo em que ainda não os havia cometido e isso faz-me sentir culpada de coisas que não fiz.

Por isso aplico a mim mesma uma espécie de autoflagelação, esperando que a dor infligida apague a original e, quando a segunda se esfumar, pouco mais reste da primeira, a não ser o sabor eterno e amargo de uma perda irremediável. E os erros desfilam, qual parada silenciosa perante os meus olhos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Os teus olhos











O céu azul, não era

Dessa cor antigamente,

Era branco como um lírio,

Ou uma estrela cadente.

Um dia fez Deus uns olhos,

Tão azuis como esses teus,

Que olharam admirados

A taça branca dos céus.

E quando sentiu esse olhar

«Que doçura, que primor!»

Disse o céu e ciumento,

Tornou-se da mesma cor.


(para a Li (amiga de olhos azuis), que queria um poema) :)