sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Asfixia

Uma mão aberta, os olhos que se esquivam detrás de um espelho… Só o que se partilha cresce. Nada de mais próximo, nada de mais distante do que duas almas que se amam…
Os teus cabelos negros são os laços que me atam e desatam, que me arrastam… esvoaçando no ar, tu ergue-te sobre a minha melancolia. A tua boca é a minha entrada para a asfixia. Porque persegues a tua sombra? Não encontrarás essa vida que procuras, porque nada permanece.
De longe chega uma vontade de chorar sem que se saiba o motivo. O tempo, que tudo promete ao esquecimento, quando virá ele em meu auxilio?
O teu corpo, luz sobre a cama. A escuridão chegará de um momento para o outro e tu perdes-te, meu amor, sobre os lençóis num sono que enche a noite.
Não sei onde está aquele que eu persigo, por onde se passeia, erguido e nítido, quais os desejos que alimenta e os prazeres de que se contrói. Nem sei que paisagens o acolhem, que língua humana fala.
O teu corpo despido, estendido ao meu lado, preste o ataque. Tão frágil que me impede de te tocar. Um imenso desejo. A noite toma-te sem fazer perguntas.
Perigos numerosos rondam os viajantes à procura do amor. O esquecimento, o desgaste dos dias, as pequenas coisas que ficam por fazer. Os cavalos estão cansados, não querem seguir para lado nenhum. Só a procura vale a viagem.
No tecido perfeito o rasgão irreparável. O que nos une é o que nos separa. O mais seguro é escapar para o lugar de maior perigo. As palavras são suspiros. Vou sozinha como uma sombra. Partir sem saber quando, ou como. Se não fosse cega coragem por onde seguiríamos? A viagem a fazer não é nossa, outros a começaram, outros a terminarão.
O meu amor permanece deitado sobre os lençóis, o doce corpo tapado por um deles, os delicados pés fora da cama.
Nada haverá mais do que isto: vozes, pedras, luz, um braço que se estende. Aves que cruzam brancas nuvens à deriva. Estranha é a nossa condição. Como se fossemos daqui. Vozes, pedras, luz. Seres mudos que não falarão.
O meu último pensamento desconheço. O meu primeiro és tu, claro dia…. És tão belo! A teus olhos, respondias….

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