sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Hoje

Toda a nossa existência tem por condição a infidelidade a nós próprios. Fui muitas vezes infiel aos outros, mas sobretudo a mim própria, quando me recusava a escutar o meu próprio coração. E tantas vezes o fiz que receei tornar-me igual a quase toda a gente, que sobrevive nesse estado de não existência, sem sequer ter a consciência de como e quão fundo nele se pode estar aprisionado.

Sem saber nem como nem porquê e apesar da minha aparente desorganização caótica, fui mantendo algumas réstias de lucidez que me foram permitindo analisar-me, se não com objectividade, pelo menos com alguma justeza. Se fosse objecto seria objectiva, como sou sujeito, só posso ser subjectiva, não tenho por isso pretensões de alcançar o cerne da verdade absoluta.

Mas, talvez porque sou de mim mesma o meu maior carrasco, posso debruçar-me sobre estas folhas para falar sobre a minha verdade.

Aprendi, a muito custo, que se há alguma verdade, ela está no que se sente, e assim vou viver, até porque entregar a minha existência a outro modo de vida que não seja regido pela franqueza, não faz para mim qualquer sentido.

Olho para trás e vejo com tristeza que os meus erros contaminaram as recordações do tempo em que ainda não os havia cometido e isso faz-me sentir culpada de coisas que não fiz.

Por isso aplico a mim mesma uma espécie de autoflagelação, esperando que a dor infligida apague a original e, quando a segunda se esfumar, pouco mais reste da primeira, a não ser o sabor eterno e amargo de uma perda irremediável. E os erros desfilam, qual parada silenciosa perante os meus olhos.

Um comentário:

  1. fantastico...

    ja conheces a minha opiniao acerca de tudo o que escreves aqui , mas tinha de deixar isso aki presente :)

    keep going :)

    adt****

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