sábado, 7 de novembro de 2009

Sol e Lua

O erro foi do verbo ou mesmo do instinto que julgam dividir em masculino e feminino. No quarto ao deitar, desenrolo o cabelo e sorrateiramente a lua invade a escuridão que silenciava o meu dia. Não! Não era a luz do dia, mas o Sol a esconder-se na noite, a confirmar um novo anoitecer... Mas que motivo tinha eu de fazer tais perguntas no meu estado alpha, ou talvez gama da sonolência. Perdi alguns minutos a contar as estrelas do céu, algumas poucas que arriscavam a competir com a luz do luar. Astros e estrelas a dividir o mesmo espaço, porque só nós “ os racionais “ não conseguimos nem partilhar pensamentos? Por que, às vezes o laço matrimonial é o fruto do desejo? Desejo que se fez carne e em nove meses habitará entre nós. Após o amadurecimento do fruto, não há mais significado para continuar juntos e a lei assinada em papel com testemunhas e tudo acusa a repartição daquilo que construíram juntos durante aquele sacramento. Paradoxo universal, pois o que aprendi na Eucaristia é que Sacramento não se desfaz, assim como óleo e água não se misturam, relembra as minhas aulas do Secundário, e a primeira aula de Química quando descobri que o que aprendi anteriormente eram teorias fasciculadas e que a ponta do iceberg não estava à vista... Chego à conclusão que a excepção faz parte da regra, e que o proibido existe para que possam definir o que é correcto, que também é relativo. Ao olhar o céu tão azul que até parece betume, principalmente quando tentamos reduzir as despesas mensais e tentamos ridiculamente não acender todas as luzes da casa. Perdermos o fôlego ao receber a conta da luz, água, senda, assistência médica. Se existisse uma fábrica de balões de oxigénio para as crises financeiras, acho que não haveria hospitais suficientes para enfiar tantos acidentados com traumatismo irreversível na conta bancária. E voltando ao matrimónio, já está comprovado que independência económica é factor crucial para o bom convívio no lar. A não ser que um dos cônjuges seja um astro, não como o sol, mas uma estrela que ilumina de forma diferente os saldos dos mega empresários e dos banqueiros de Hollywood. Talvez a arte seja a forma mais prazeirosa de aproximarmos uns aos outros. E é por isso que Michelangelo não uniu Deus ao homem, se visualizarem há alguns centímetros que separam os dois seres. “ A criação de Adão” pintada na capela Sistina é a representação expressiva do que é o belo e natural. Homem fruto da criação Divina, astros, estrelas, mutações e vagos sentidos são definitivamente à exclusão do que podemos chamar de sensatez. Sol e Lua dividem o mesmo cenário, equilibram-se nas peculiaridades de cada hemisfério e só nós homens e mulheres criamos a rivalidade e delimitamos o nosso espaço, ou melhor o meu, e o teu lugar. E estabelecemos preço, seleccionamos padrões e quem irá entrar no círculo finito das nossas amizades. Bem, já é quase dia e ouço o Sol dizer:”Bom dia, dona Noite! A madrugado foi boa? Agora sou eu que reino até o crepúsculo.”...com uma voz quente e tão distonante da frieza da noite e simultaneamente tão parecida com a vida de um casal, aquele mesmo que uniu-se pelo fruto, foi abençoado pelo Sacramento e, separado pela lei, mas unido, ainda sim, pelo sonho de brilharem como estrelas na vida de alguém.

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